sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crónica de um disparo II

Deviam vê-la, retratá-la, agora destruída e forçada a confrontar-se com o pouco nada que na realidade é e a miséria em que se tornou a armadura que para si criara. Armadura ridícula, ilusória, papel de alumínio à guisa de chapa de aço temperado, enganando mais a que a enverga do que aqueles contra os quais a deveria defender.
É agora fera ferida de lume apagado, deviam vê-la. O instinto leva-a a fugir para as sombras, querendo sarar e reconstruir-se a partir dos escombros que o caçador de olho vivo lhe deixou. O instinto atrai-a para ele como a chama atrai a borboleta, querendo retaliar, magoar, pagar de alguma forma a dúbia vergonha, a dor pungente de ser confrontada à força com as suas falhas e a sua pequenez - o pouco, o nada, que conseguira por tempos iludir-se que nao era.

Sem comentários:

Enviar um comentário