sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Crónica de um disparo III

Deviam vê-la agora,apontar-lhe a mira e disparar certeiramente. O olhar desprovido de fogo, de anseio, de propósito. Talvez falte o selvagem que o caçador procurava, mas foi ele, com a sua carabina de tiro certeiro, que silenciou o seu rugido.
Deviam vê-la agora e novamente julgar, com balas de incandescente franqueza, indiferentes aos efeitos de tais disparos, às chagas sangrentas de palavras feitas munição.
Talvez um novo disparo desperte a besta e a faça reagir. Talvez rasgue com garras e presas a rede que a sufoca e se lance em frenético ataque sobre o cruel caçador. Talvez aí ele dispare novamente e obtenha da fera o olhar que ansiava.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crónica de um disparo II

Deviam vê-la, retratá-la, agora destruída e forçada a confrontar-se com o pouco nada que na realidade é e a miséria em que se tornou a armadura que para si criara. Armadura ridícula, ilusória, papel de alumínio à guisa de chapa de aço temperado, enganando mais a que a enverga do que aqueles contra os quais a deveria defender.
É agora fera ferida de lume apagado, deviam vê-la. O instinto leva-a a fugir para as sombras, querendo sarar e reconstruir-se a partir dos escombros que o caçador de olho vivo lhe deixou. O instinto atrai-a para ele como a chama atrai a borboleta, querendo retaliar, magoar, pagar de alguma forma a dúbia vergonha, a dor pungente de ser confrontada à força com as suas falhas e a sua pequenez - o pouco, o nada, que conseguira por tempos iludir-se que nao era.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Crónica de um disparo I

Perdida,certo? Fora de tudo,esquecida do mundo,certo?
Era isso que se procurava,uma metáfora da criança selvagem,fora das regras,à margem da norma. Uma mirada oca e alheada de criatura ferida,de fera com instintos ao rubro.
Deviam vê-la agora. Pobre alma,retalhada em remendos que pouco e mal se mantinham juntos. Deviam vê-la,olhos escancarados com o espanto daqueles a quem é roubada a ilusão. O olhar alheado de quem se viu rechaçado e desprovido de esperança. Olhos vagos, de lume quase apagado,criança receosa de mãos fechadas - com a alma exposta no escrútinio de um alguém que não deveria tanto ler nela.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Mulher Portuguesa...e talvez todas as mulheres do mundo

«A mulher portuguesa não é só Fada do Lar, como Bruxa do Ar, Senhora do Mar e Menina Absolutamente Impossível de Domar. É melhor que o Homem Português, não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Trabalha mais, sabe mais, quer mais e pode mais. Faz tudo mais à excepção de poucas actividades de discutível contribuição nacional (beber e comer de mais, ir ao futebol, etc). Portugal (i.e., os homens portugueses) pagam-lhe este serviço, pagando-lhes menos, ou até nada.

O pior defeito do Homem português é achar-se melhor e mais capaz que a Mulher. A maior qualidade da Mulher Portuguesa é não ligar nada a essas crassas generalizações, sabendo perfeitamente que não é verdade. Eis a primeira grande diferença: o Português liga muito à dicotomia Homem/Mulher; a Portuguesa não. O Português diz «O Homem isto, enquanto a Mulher aquilo». A Portuguesa diz «Depende». A única distinção que faz a Mulher Portuguesa é dizer, regra geral, que gosta mais dos homens do que das mulheres. E, como gostos não se discutem, é essa a única generalização indiscutível.

A Mulher Portuguesa é o oposto do que o Homem Português pensa. Também nesta frase se confirma a ideia de que o Homem pensa e a Mulher é, o Homem acha e a Mulher julga, o Homem racionaliza e a Mulher raciocina. E mais: mesmo esta distinção básica é feita porque este artigo não foi escrito por uma Mulher.

Porque é que aquilo que o Homem pensa que a Mulher é, é o oposto daquilo que a Mulher é, se cada Homem conhece de perto pelo menos uma Mulher? Porque o Português, para mal dele, julga sempre que a Mulher «dele» é diferente de todas as outras mulheres (um pouco como também acha, e faz gala disso, que ele é igual a todos os homens). A Mulher dele é selvagem mas as outras são mansas. A Mulher dele é fogo, ciúme, argúcia, domínio, cuidado. As outras são todas mais tépidas, parvas, galinhas, boazinhas, compreensíveis.

Ora a Mulher Portuguesa é tudo menos «compreensiva». Ou por outra: compreende, compreende perfeitamente, mas não aceita. Se perdoa é porque começa a menosprezar, a perder as ilusões, e a paciência. Para ela, a reacção mais violenta não é a raiva nem o ódio – é a indiferença. Se não se vinga não é por ser «boazinha» – é porque acha que não vale a pena.

A Mulher Portuguesa, sobretudo, atura o Homem. E o Homem, casca grossa, não compreende o vexame enorme que é ser aturado, juntamente com as crianças, o clima e os animais domésticos. Aturar alguém é o mesmo que dizer «coitadinho, ele não passa disto…» No fundo não é mais do que um acto de compaixão. A Mulher Portuguesa tem um bocado de pena dos Homens. E nisto, convenhamos, tem um bocado de razão.

O que safa o Homem, para além da pena, é a Mulher achar-lhe uma certa graça. A Mulher não pensa que este achar-graça é uma expressão superior da sua sensibilidade – pelo contrário, diverte-se com a ideia de ser oriundo de uma baixeza instintiva e pré-civilizacional, mas engraçada. Considera que aquilo que a leva a gostar de um Homem é uma fraqueza, um fenómeno puramente neuro-vegetativo ou para-simpático – enfim, pulsões alegres ou tristemente irresistíveis, sem qualquer valor.

E chegamos a outra característica importante. É que a Mulher Portuguesa, se pudesse cingir-se ao domínio da sua inteligência e mais pura vontade, nunca se meteria com Homem nenhum. Para quê? Se já sabe o que o Homem é? Aliás, não fossem certas questões desprezíveis da Natureza, passa muito bem sem os homens. No fundo encara-os como um fumador inveterado encara os cigarros: «Eu não devia, mas.. » E, como assim é, e não há nada a fazer, fuma-os alegremente com a atitude sã e filosófica do «Que se lixe».
Homens, em contrapartida, não podiam ser mais dependentes. Esta dependência, este ar desastrado e carente que nos está na cara, também vai fomentando alguma compaixão da parte das mulheres. A Mulher Portuguesa também atura o Homem porque acha que «ele sozinho, coitado; não se governava». O ditado «Quem manda na casa é ela, quem manda nela sou eu» é uma expressão da vacuidade do machismo português. A Mulher governa realmente o que é preciso governar, enquanto o homem, por abstracção ou inutilidade, se contenta com a aparência idiota de «mandar» nela. Mas ninguém manda nela. Quando muito, ela deixa que ele retenha a impressão de mandar. Porque ele, coitado, liga muito a essas coisas. Porque ele vive atormentado pelo terror que seria os amigos verificarem que ele, na realidade, não só na rua como em casa não «manda» absolutamente nada. «Mandar» é como «enviar» – é preciso ter algo para mandar e algo ao qual mandar. Esses algos são as mulheres que fazem.

O Homem é apenas alguém armado em carteiro. É o carteiro que está convencido que escreveu as cartas todas que diariamente entrega. A Mulher é a remetente e a destinatária que lhe alimenta essa ilusão, porque também não lhe faz diferença absolutamente nenhuma. Abre a porta de casa e diz «Muito obrigada». É quase uma questão de educação.

A imagem da «Mulher Portuguesa» que os homens portugueses fabricaram é apenas uma imagem da mulher com a qual eles realmente seriam capazes de se sentirem superiores. Uma galinha. Que dizer de um homem que é domador de galinhas, porque os outros animais lhe metem medo?
Na realidade, A Mulher Portuguesa é uma leoa que, por força das circunstâncias, sabe imitar a voz das galinhas, porque o rugir dela mete medo ao parceiro. Quando perdem a paciência, ou se cansam, cuidado. A Mulher portuguesa zangada não é o «Agarrem-me senão eu mato-o» dos homens: agarra mesmo, e mata mesmo. Se a Padeira de Aljubarrota fosse padeiro, é provável que se pusesse antes a envenenar os pães e ir servi-los aos castelhanos, em vez de sair porta fora com a pá na mão.»

Miguel Esteves Cardoso, in ' A Causa das Coisas '

quarta-feira, 27 de março de 2013

Primavera...mudança de estação, mudança de vida!

Deixei-vos no suspense de saber se teria conseguido aprender a andar de bicicleta durante a minha semaninha de férias em Fevereiro...entretanto tanta coisa mudou!

Mas sim, consegui aprender, se bem que pouco tenho praticado xD

Eis a prova:

aqui estou eu, pedalando devagarinho na minha Esmaltina... com a minha Eva a correr a trás de mim a ladrar, a doida!

Entretanto, deram-se bastante mudanças na minha vida além desta evolução nas minhas capacidades de ciclista... regressei ao trabalho depois da minha semaninha sobre rodas para receber a notícia de que não me iria ser renovado o contrato e que, até ao final deste, estaria de férias.

Assim, vim para casa no início de Março e gozei mais umas férias - sempre à procura de trabalho! Duas semanas depois, a fortuna sorriu-me e já me encontro a trabalhar novamente - sem ter estado, oficialmente, desempregada.
Vamos a ver onde a vida me leva agora, nesta nova fase... coisas boas, venham elas!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Férias...sobre rodas!

Pois é, tenho uma semaninha de férias... o meu projecto, para além de pôr coisas da minha vida financeira/cidadania em ordem é muito simples: ler, escrever e... tan tan tan... Aprender a ANDAR DE BICICLETA!

Sim, sou uma naba que não sabe andar de bicicleta, mas espero no fim desta semana isso ter mudado pelo menos um pouquinho...e enquanto isso faço-me acompanhar de José Rodrigues dos Santos e do seu "Códex 632" e do Sr. Johnatan Swift e as suas "Viagens de Gulliver".
Enquanto isso, espero pelas visitas da musa ... e quem sabe do cupido!

Certamente que passarei aqui para actualizar o meu progresso ciclista ainda esta semana!

Happy explorings, everyone!


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Dia de São Valentim




Boneca de trapos
Porque não sorris?
Vinda da terra dos sonhos
E não és feliz?
Nesse teu país de fantasia
Não deveria reinar a alegria?
Porque estás tão tristonha
Se a cara, ta fizeram risonha?
Pobre bonequinha
Feição feita em esgar
Sonha desde pequenina
Ter alguém para amar.


                                            28/08/2011

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Last Kiss Goodnight

Pois é, um novo livro de Gena Showalter!

Com um passatempo associado, que podem encontrar aqui:

Goodreads - Gena Showalter

e mais informações no site da autora.

Ela gosta bastante de escrever romances com um toque sobrenatural, como é bom exemplo a saga dos Senhores do Submundo. Boa leitura para descontrair e sonhar um pouco!

Reflexões para a Paz Interior - 3 de Janeiro

" A alegria mantém viva na mente uma espécie de luz solar e preenche-a com uma serenidade firme e perpétua."
- Joseph Addison (1672-1719)


Em bom e tradicional Português, já lá diz o ditado... "quem canta seus males espanta". Cantar é um exercício de alegria, que afasta da mente as coisas que nos preocupam e a preenche com a harmonia que só a música, enquanto construção humana intrinsecamente ligada com as nuances dos mistérios naturais, consegue proporcionar. Por isso, tantas vezes canto no trabalho. Traz-me alegria interior pois distrai-me do que me está a perturbar a serenidade e, sem dúvida, traz alegria às minhas colegas, que se fartam de rir das minhas figuras ristes a dobrar pijamas e a cantar "A Aldeia da Roupa Branca" e outros clássicos da música portuguesa. :)

Louca? Um pouco. Feliz? Sempre que posso. E pouco ou nada mudaria nisso.

Façam favor de ser felizes!

Feliz 2013 *